Mel la del barrio
Depoimento
habilitação em
pintura 2022

Belorizontina, mel la del barrio encontrou a pintura em 2019 e desde então se tornaram inseparáveis. É habilitada em Fotografia (2021) e Pintura (2022) na Escola Guignard.
A figura humana, ou do animal meio antropormórfico, está sempre presente em suas telas, com seus rostos e corpos cheios de movimento e expressão. A cor vibra nas suas pinceladas, desordenadas e ao mesmo tempo contidas, que deixam à mostra um pouco de seu processo de criação.
Suas fontes de inspiração vão das fotografias de família de sua coleção a imagens encontradas na internet - que podem ser belas selfies, registros da vida alheia ou memes engraçadinhos.

Dentre as várias comemorações pelos 80 anos da Escola Guignard, 'Quando atitudes se tornam escola - segunda estação" curada por Julio Martins, é a primeira exposição a reviver o espaço Corredor/Galeria Vicente de Abreu, O que está aqui trata-se, portanto, de uma exposição dentro de outra exposição. O conjunto de trabalhos de Mel La Del Barrio em "Com quem será?" apresenta, com humor, conceitos-chave como memória, tempo e subjetividade. Desta maneira, sigo este texto em forma de conto, dialogando com o imaginário presente nas telas de DeI Barrio:
Era dia de festa, uma data marcada por vários aniversários, celebrações que transcendiam aquele espaço-tempo. No recinto, o encontro de diferentes aniversariantes. A música começou a embalar um domingo de sol; bumbuns balançavam ritmados naquela laje. Estamos no Brasil. Tudo convidava a suplicar aos céus desejos de bronze, marquinhas de sol, um casamento ou uma nova obsessão. Nos vários brindes, ao tilintar dos copos, os convidados diziam: "Cheers! Feliz aniversário, my dear!' Enquanto isso, uma pequena aprendiz da língua inglesa, também aniversariante, repetia baixinho: "I wanna be a krokodill". Em outras partes do globo, nasciam novos aniversariantes que, ao vir ao mundo. berravam insatisfeitos por serem agraciados - ou condenados - ao "dom" da vida.
Na laje ensolarada, cada aniversariante se sentia de um jeito_ Alguns estavam alegres por mais um ano de vida, outros temiam a morte que se aproximava a cada comemoração. Havia também aqueles que se preocupavam apenas com a perda do viço de suas caninhas de boneca que, naturalmente, iam se tornando um pouco mais amassadas, marcadas pelo tempo_ Crianças, sem o peso cliché da existência, por ali também festejavam. Seus desassossegos estavam comprometidos em beber um copo de whisky escondido ou de ganhar um porco de estimação no próximo aniversário. Entre as pernas dos convidados, passava "Desfilando" um cachorrinho peludo, que poderia ser facilmente confundido, devido à sua pelagem branca glacê, com o bolo que estava ao centro da mesa. As pessoas lhe davam carinho e, certamente, foi o que ele pediu para seu novo ano: mais atenção. Ocasionalmente, também acontecia a 'Aparição' do gato emburrado, incomodado com tantas presenças felizes; ele, provavelmente, teria pedido apenas sossego.
O dever de comemorar mais um ano de vida, imposto pelas tradições culturais, deixou todos os rostos carimbados por bocas meladas de refrigerante diet, batons e gloss. Na hora do "parabéns para mim", o bolo, que já estava com a vela acesa, foi delicadamente apagado pelo sopro de uma menina que, de olhos fechados, se transportou por alguns instantes para algum lugar distante. O bolo aceso novamente, um outro rebolado debaixo da ducha e a promessa de que todos os desejos seriam realizados. Ao final, a mesa estava abarrotada de copos, guardanapos e pratos sujos, como se nada mais fosse restar desse dia. No entanto, posteriormente, em uma caixa, foi guardado um álbum de fotografias que registraram esses momentos e que agora estão amplamente pintados em telas, numa busca de eternizar essa memória não mais distante.
IAN GAVIÃO