Paulo Roberto Lisboa
Encontro 23 de NOVEMBRO de 2022 - 16h30 - Sala 4 Escola Guignard-UEMG
Encontro e conversa hoje com Paulo Roberto Lisboa. Um trajetória de talento no desenho, na gravura e na pintura. Suas pintoras com intervenções tipográficas carregam memórias e anotações de seus moleskines.
Paulo Roberto Lisboa é natural de Leopoldina/MG, tem formação em bacharelado e licenciatura em Artes pela Escola Guignard (Universidade Estadual de Minas Gerais), onde atua como professor de gravura em metal. Iniciou sua produção em gravura no final da década de 1970, durante a graduação. O artista também trabalha com desenho e pintura.
A gravura em metal é um processo que utiliza como matriz uma chapa de metal, geralmente de cobre, podendo ser também de outros materiais, como latão ou alumínio, sendo uma das técnicas de gravura mais antigas. Nesse tipo de gravura são utilizadas diversas ferramentas para gravar as imagens na matriz, como, por exemplo, a ponta seca e o buril, que são utilizadas diretamente sobre a matriz, riscando a chapa. Em outros procedimentos técnicos como a água-forte e a água-tinta, são utilizados produtos químicos. Na água-forte, por exemplo, a matriz é coberta com um verniz resistente ao ácido e é feito o desenho com uma ponta metálica que atravessa essa camada de proteção. A gravação acontece pela corrosão feita pelo ácido, que corrói as linhas abertas na camada de verniz. Nesse tipo de gravura, a tinta se deposita nos sulcos gravados e não na superfície da matriz, como é feito na xilogravura, que tem a matriz de madeira. A transferência para o papel se dá por meio de uma prensa de cilindro.
As criações de Paulo Roberto Lisboa nascem de referências da infância, de um olhar atento às cenas do dia a dia e de lembranças, principalmente de sua cidade natal. Em suas obras, os títulos são um complemento às imagens com grande carga poética, como em “Nota de falecimento de um pássaro” (2015) e “Paisagem entardecida por um pincel” (2016). Segundo o artista: “Para mim, a gravura é a lousa, onde descrevo e escrevo todos os cenários, onde faço e desfaço, onde risco e rabisco. São as árvores de Leopoldina que evaporam passarinhos em determinado horário da tarde. São coisas simples que, na minha cabeça, viram poesia”.
Essa poesia se completa com técnica e grande criatividade para transformar as memórias em histórias cheias de encantamento, materializadas em gravuras. Em um mesmo trabalho, o artista utiliza várias técnicas da gravura em metal. As linhas que compõem os desenhos, as manchas e variações cromáticas, são resultado de muito trabalho, construído com paciência e imaginação. Como diz Marco Buti: “A linguagem visual, com intenção artística, é linguagem poética, com um nível de articulação infinitamente mais alto que o corrente. Como a palavra, os signos gráficos tecem uma rede de relações significativas: a matéria altamente organizada se transcende” (BUTI, 1996, p. 108). Apesar de um grande domínio técnico, Lisboa valoriza a poética e a imaginação, nos instigando a ver e interpretar suas obras com um olhar sempre atento.
Em 2017, o artista realizou a exposição “Estórias Gravadas” na PQNA Galeria do Palácio das Artes. Foram expostas 30 gravuras em metal impressas em papel, produzidas ao longo dos últimos dez anos e utilizando-se diversas técnicas, como a água-forte, a água-tinta e o verniz-mole. Segundo a curadora Luisa Godoy: “Para Paulo Lisboa, a ‘matriz’, essa matéria gravada passível de reprodução, não se resume ao metal, pois é ‘poética’. Ele ousa por matérias orgânicas: em si, na memória criativa; naquele que vê suas imagens estampadas, grava aquilo do humano que não se toca ou nomeia”.
in A técnica e a poética nas gravuras em metal de Paulo Roberto Lisboa
Por Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS. https://fcs.mg.gov.br/a-tecnica-e-a-poetica-nas-gravuras-em-metal-de-paulo-roberto-lisboa/